terça-feira, 22 de maio de 2018

Quem nunca leu ou reparou naqueles desenhos que são publicados nos jornais e revistas e, mais recentemente, disponibilizados em blogs ou enviados para nossas caixas de mensagem mostrando situações do dia a dia da política e da nossa sociedade de modo geral? Quem nunca riu ou ficou pensativo – às vezes até indignado e/ou revoltado – diante de algumas dessas imagens? Certamente você já sabe do que se trata. Sim, estamos falando de charges e cartuns.

13 comentários:

  1. Humor Gráfico: termo utilizado para
    representar uma diversidade de obras
    gráfi cas comuns em suportes impressos, tais
    como as charges, cartuns (ou cartoons), tiras
    em quadrinhos e caricaturas, que provocam
    comicidade a partir de refl exões, sátiras ou
    críticas sociopolíticas, entre outros.
    Iconografia: repertório de imagens
    próprio de uma obra, gênero de arte, artista
    ou período artístico

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  2. A primeira coisa que o educador deve saber é
    a definição do que é charge e do que é cartum.
    Cada artista ou estudioso, por força de ofício, acaba
    apresentando o seu próprio conceito, mas, no
    fundo, a grande maioria deles está falando de coisas
    muito parecidas.
    Para começar, precisamos reconhecer que entre
    a charge e o cartum há uma condição que é comum
    e determinante: ambos são modalidades do humor
    gráfico de natureza dissertativa, ou seja, sempre
    apresentam a defesa de uma ideia.
    E qual seria a diferença entre esses dois tipos
    de desenho? De modo geral, pode-se dizer que a
    charge é uma representação humorística, caricatural
    e de caráter político, satirizando um fato ou
    personalidade específicos, funcionando como uma
    espécie de “editorial gráfico”. Por sua vez, o cartum
    difere da charge por fazer referência a fatos
    ou pessoas ficcionais, sem ligação com a realidade
    imediata, portanto, atemporal e marcado por um
    humor universal.

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  3. Como a charge tem uma relação muito estreita
    com a realidade imediata, com a atualidade
    dos fatos e das coisas, um dos elementos mais importantes
    a ser considerado é sua efemeridade.
    A charge mantém sua eficácia e eficiência como
    expressão comunicativa no curto período de tempo
    em que o acontecimento a que se refere permanece
    na memória individual e social do seu leitor. Depois
    disso, ela perde sua força comunicativa. Porém, por
    outro lado, ela ganha valor como fonte histórica
    (aí a tarefa é com os historiadores...).
    Latuff Angelo Agostini
    Efemeridade: o que é efêmero,
    passageiro, temporário, que dura pouco

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  4. Uma característica que é própria das charges
    e dos cartuns é a presença do humor.
    Naturalmente entendemos humor como aquilo
    que nos provoca o riso, não é verdade? No caso
    do humor gráfico, entretanto, precisamos perceber
    o sentido desse “humor” de outra maneira. É
    evidente que a grande maioria das charges e cartuns
    provoca o riso no seu leitor. Mas quando o riso
    não acontece, será que isso significa ausência de
    humor? E como explicar que um desses desenhos
    pode provocar o riso em algumas pessoas e, ao
    mesmo tempo, indignação ou repulsa em outras?
    Isso acontece porque, para entender o sentido de
    humor nas charges e nos cartuns, é necessário considerar
    que o humor é aquele elemento presente
    na imagem que promove uma transgressão
    e uma desordem na situação real retratada, ou
    como nas palavras do pensador e escritor italiano
    Umberto Eco, que “mina a lei”, que destrona os
    poderosos. Portanto, pelo humor, as charges e cartuns
    funcionam como uma forma consistente
    de crítica política e social.

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  5. Transgressão: ato de transgredir, de violar,
    de ir além de. Essa violência do(a) artista é a
    sua forma de expressão, de não aceitação e/ou
    incompreensão diante dos valores estabelecidos
    e impostos pela realidade que o(a) cerca, de
    subversão, de criação do novo ou mesmo de
    denúncia ou ridicularização do status quo.

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  6. Mas e se a charge ou cartum fizer alguém rir,
    significa necessariamente que essa pessoa não
    entendeu a proposta do artista ou que é uma
    alienada? Nada disso! O humor, em qualquer situação,
    também ativa o ato do riso. Porém, essa é
    apenas uma das camadas produzidas pelo humor.
    Há outras mais profundas que o humor se propõe
    a atingir, e é nelas que o potencial crítico e
    persuasivo é ativado com mais energia, possibilitando
    uma mudança de consciência e de
    atitude diante da situação e da temática retratadas
    nas imagens desenhadas.
    Um exercício que o educador pode realizar é
    selecionar charges e cartuns a respeito de temas
    diversos (polêmicos, de preferência) e distribuir entre
    os seus educandos. O próximo passo é observar
    a reação de cada um deles e pedir que registrem
    suas opiniões e sensações. Depois, deve-se promover
    um debate coletivo a partir das diferenças
    de opinião e percepções manifestadas pelos educandos.
    Ao final, o educador apresenta a definição
    de humor referente às charges e cartuns.

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  7. A charge e o cartum são desenhos de humor
    que há um bom tempo estão presentes na
    sociedade brasileira. Esses desenhos, assim como
    as histórias em quadrinhos, se tornaram comuns
    em jornais e revistas e, no começo, justamente
    por despertarem a curiosidade dos leitores, tinham o objetivo de estimular o consumo dos
    periódicos impressos. Porém, com o avanço das
    técnicas de produção e de impressão, eles foram
    ganhando espaço como material de opinião e de
    crítica às mazelas de nossa sociedade.

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  8. Sem pretender estabelecer tipificações rígidas
    ou categorias determinadas, é possível perceber
    algumas especificidades no universo das charges
    e cartuns e, com isso, identificar diferentes tipos
    para essas modalidades do humor gráfico. A principal
    delas é com relação ao contexto retratado, de
    ordem mais política ou social.
    Pode parecer redundante, mas podemos caracterizar
    algumas charges como charge política ou
    cartum político. São aquelas imagens que apresentam
    temáticas relacionadas à conjuntura política
    local, nacional ou internacional, vinculadas a fatos
    ou personagens reais (no caso da charge) ou a abordagens
    políticas genéricas (no caso do cartum). Na
    prática, é a grande maioria das charges e cartuns
    produzidos em nossa imprensa. Essas imagens exalam
    acidez e criticidade e, em alguns casos, chegam
    a exercer uma atitude quase militante.

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  9. Por sua vez, há algumas imagens que, apesar
    de manterem essencialmente as qualidades das
    charges e cartuns, apresentam uma atitude mais
    amena em relação à temática retratada e,
    por isso, podem ser definidas como charge social
    ou cartum social. Elas funcionam como uma espécie
    de crônica ilustrada e é bastante utilizada no
    contexto esportivo e para prestar homenagens.
    O formato de apresentação das imagens é outro
    aspecto utilizado para designar diferentes tipos
    de charges e cartuns. Na quase totalidade dos
    casos, esses desenhos aparecem em um único
    quadro. Podemos também encontrar várias cenas
    inseridas em um único quadro maior. Porém, principalmente
    no caso das charges, há situações em
    que ela é apresentada por meio de uma tira. Nesse
    caso, a denominamos de tira chárgica.
    É bastante comum nas publicações impressas
    as charges e cartuns acompanharem ou complementarem
    algum texto verbal. Apesar disso,
    não se deve considerar que essas produções iconográfi
    cas tenham como objetivo apenas ilustrar
    ou ser um elemento decorativo de um texto verbal.
    Ao contrário, elas têm autonomia informativa
    e propósito comunicativo próprio e
    peculiar. Além disso, é possível verificar em várias
    publicações a charge ocupando um lugar especí-
    fico, sem relação necessária e imediata com qualquer
    notícia ou produção verbal. Nesses casos, o
    leitor estará diante de uma charge editorial.
    Elas aparecem em diversos contextos comunicativos,
    ora explorando o tema de maior importância,
    visibilidade ou polêmica explorado pelo veículo de
    comunicação, ora como uma tentativa de sistematização
    de uma determinada conjuntura econômica
    ou sociopolítica.

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  10. O educador pode se utilizar da produção de
    charges e cartuns para fi ns de ensino e aprendizagem.
    Assim, além de realizar uma atividade
    lúdica, ainda estimula a criatividade e a criticidade
    dos educandos.
    Para a produção de charges, o professor deve
    escolher um fato ou notícia da atualidade que seja
    do conhecimento da maioria das pessoas envolvidas
    e oferecer o máximo possível de informações
    e detalhes a seu respeito. Ele pode, ainda, disponibilizar
    fotos de pessoas envolvidas no fato a ser retratado,
    incentivando a produção de caricaturas.
    Esse recurso é sempre uma estratégia muito
    eficiente para as charges, pois facilita ao leitor o
    reconhecimento dos acontecimentos. Depois disso,
    é só deixar agir a criatividade do educando na
    produção de sua própria charge.
    Por sua vez, para a produção de cartuns, deve
    haver uma liberdade maior na criação da narrativa
    visual e verbal, inclusive, com a possibilidade
    de inventar personagens que possam vivenciar
    as mais distintas situações. O professor pode contribuir
    apresentando sugestões de temas que estejam
    diretamente relacionados com a sua disciplina
    ou ainda temas transversais, garantindo que
    as imagens produzidas sejam utilizadas no contexto
    do processo educativo.
    Caricatura: retrato caricato que apresenta
    de maneira exagerada, geralmente distorcida e
    engraçada, as características físicas de uma pessoa.

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  11. Além de incentivar a produção de charges e
    cartuns como atividade pedagógica, o educador
    também pode propor exercícios de análise
    desse tipo de imagem como estratégia de
    aprendizagem. Para isso, há uma série de elementos
    e condições que devem ser considerados
    para a realização de uma boa análise.
    A primeira questão a ser considerada é que
    a charge ou cartum são recursos gráfico-visuais
    que compõem um universo comunicativo
    mais amplo. Não é possível fazer uma análise
    sem considerar o contexto comunicativo
    maior, afinal, as charges e cartuns se integram,
    dão sentido e compõem os textos verbais de um
    jornal ou revista e essa unidade não deve ser
    quebrada. Mesmo no caso de uma charge editorial,
    ainda assim é preciso considerar todo o
    contexto da página onde foi publicada.
    No caso específico das charges, também é
    necessário verificar se elas fazem parte de uma
    produção jornalística formal. Nesse caso, a qualidade
    informativa da imagem é fundamental
    e o analista deve examinar se os principais
    elementos informativos estão presentes e, caso
    não estejam, deve indicar se essa ausência compromete
    a efetividade comunicativa.
    Como já indicado, a charge ou cartum se
    propõe a defender uma ideia. Portanto, representam
    a opinião de alguém tentando influir
    7. Dicas importantes para o
    professor realizar a análise de
    charges
    e cartuns
    no raciocínio e/ou na opinião de outra pessoa.
    Porém, toda charge ou cartum é produzido sob
    certas condições de produção e, para fazer uma
    boa análise, o professor precisa cumprir alguns
    objetivos, entre eles: (a) identificar o autor e sua
    formação ideológica; (b) conhecer as características
    do veículo ou do suporte onde
    estão publicados e também das instituições responsáveis
    pela respectiva produção comunicativa;
    (c) ter conhecimento de como se organizam
    as relações sociais de produção (se há ou
    não vínculo empregatício do chargista ou cartunista
    na empresa); (d) conferir se há interações
    entre diferentes sujeitos durante o processo
    de criação das imagens; (e) verificar como se
    estabelecem os processos decisórios em relação
    à aceitação e consequente publicação da
    imagem produzida.
    Combinado com essas dicas para uma análise
    mais voltada para o contexto sociopolítico, também
    é preciso realizar uma descrição detalhada
    dos elementos visuais e verbais contidos
    na charge ou cartum (personalidades conhecidas,
    cenários, expressões, cores, balões de fala,
    legendas etc.). Depois disso, deve-se acionar
    todo o repertório de conhecimentos gerais e específi
    cos que permita explicitar os efeitos de sentido
    da imagem a ser analisada.

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  12. Além dessas orientações gerais, o professor
    deve se familiarizar com as metodologias pró-
    prias para análise de imagens, pois sabemos que
    não é fácil fazer a leitura de uma imagem. É preciso
    apresentar argumentação sólida, coerente e
    que faça sentido. Não se pode fazer uma boa
    análise baseada apenas em “achismos”.
    Como exercício de aplicação e de aprendizagem,
    os professores podem buscar o jornal de
    sua cidade ou região, selecionar as charges e
    cartuns publicados e realizar uma análise dessas
    imagens procurando aproveitar todas essas dicas
    apresentadas. Claro, é bom ampliar a sua leitura
    sobre o assunto em outras fontes.

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  13. Mais do que retratar o nosso cotidiano e pautar
    temas de grande relevância para a vida social, as
    charges e os cartuns, como vimos, podem servir
    como importante estratégia educativa, no
    momento em que em forma de desafio, o educando
    será provocado a refletir, a impulsionar a sua
    imaginação e criatividade e a exercitar e desenvolver
    a sua capacidade crítica de ver o mundo.
    Por essas e outras, professor(a), procure conhecer
    mais e abuse dessas imagens em suas atividades
    em sala de aula. Certamente, seus alunos sairão
    ganhando.

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